segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Não enviada (pós adolescência)


   
                Ao encontrar umas coisas perdidas em mim, o impulso foi querer lhe abraçar. Não pude. Você não estava, não queria estar por perto. Portanto, me vi só. Sei que vou sobreviver a isso, e que também há palavras pra me confortar (ainda que seja eu quem as escreva). Aprendi a manejar o incomodo da sua ausência. A falta de elementos que constituam sua figura aos poucos foi substituída por outras pessoas, e até por mim.
                Quando bem pequena, encontrei uma bolha de alegria no meio de um turbilhão de brigas. Mas os conflitos continuaram, se intensificaram com essa bolhinha. Então eu comecei a mentir, culpando outras pessoas. Eu amava essas pessoas, ainda as amo e estou triste por misturar todas elas num enredo estilo Almodóvar. Fiquei com medo dos olhares, tive o mesmo pesadelo todos os dias, até os quatro anos. Eu sei que não faz muito sentido falar tudo isso pra você em metáforas, só que foi a forma que eu pude encontrar.
                Revirando isso em mim, me veio culpa. Uma criança tão pequena não é culpada, eu sei. O problema é que foi aí que o começou essa loucura toda. Agora estou sem coragem para falar para minha mãe, não é medo, mas um tanto de não sei o que. Tá tudo tão complicado na minha cabeça. Me sinto tão estranha. Não há nada de novo em ser estranha, isso sempre me acompanhou. Fico me perguntando onde está meu jeito de resolver as coisas e pronto. Sei o que devo fazer, não faço. Não me sinto segura. E também não sei quando vou me sentir.
                De que serve minha vida? Unir minha família? Construir a revolução socialista? Ser feliz por não saber se terei outra vida? Salvar pessoas de uma vida vazia, ou melhor ocupada pelas mazelas do capitalismo? Vasculho, não acho. Talvez seja um tanto de tudo isso, ou nada. São tarefas grandes demais pra mim. Todas elas. O que depende de mim? O que dependerá dos outros?
                A frustração de não conseguir cumprir nada daquilo que me propus é pela única razão lógica da falta dos outros. A infelicidade, a dor, a tristeza, o parto, a culpa, a doença, a morte. O degrade dos sentimentos, a falta completa de arestas. Queria falar de como eu me sinto pra você. E como lidar com quem não quer saber? Será que suporta saber?
                O que me cabe é procurar formas de suportar, pois embora ainda não ache serventia para esta vida, ela é minha.

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