quarta-feira, 28 de novembro de 2012

30 dias


Faltou fazer amor,

Um presente, mais tempo e o brilho da manhã.

Mas estava aqui, imerso de prazer.

Na sensação que for...

Abro as portas que sempre me levam ao novo,

e os carinhos do conforto que me invade.

Sussurrando loucuras ao ouvido esquerdo,

afagando a pele-ego, olhando e sorrindo.

Ele sorrir com  sua história pra mim.

Quando o  encontro não estava marcado,

e dois seres acelerados ousam amar simplesmente,

viver intensamente,

ser felizes por agora e sempre.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Há(a) terceira pele(?)

Um labirinto de incertezas e finitudes,
retornos, estanques, coturnos.
Dissipa-se ao som ocre do silêncio,
padece-se de dúvidas, percorre-se caminhos.
Observa-se, e este é o mais valioso.
Pegar ou acolher, pouco importa...
Se há mais trancas que portas, como entrar? Como sair?
Como mover a vida? Como estacionar na morte?
Aparatos de formato humano e suas respectivas solidões,
a ausência de perguntas, a supremacia das respostas ilusórias.
Há uma população residente na fantasia,
dependentes de uma única mente.
Começa a doer cada passo,
remoí, ata, repete-se e o tempo se vai.
Expansão demográfica de espectros...
Viagens, lugares e imperfeições,
mais um conto pra falar, mais uma lembrança pra se segurar.
Embora tudo esteja caindo, falindo, indo.
No lugar o passado, a falta, os sons.
A tristeza subcutânea e suas necessidades,
a epiderme da felicidade apartando-nos das mazelas,
e a vontade de falar sobre o tecido, aquele que vai mediar as verdades.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

A FLOR E A NÁUSEA


A FLOR E A NÁUSEA

Carlos Drummond de Andrade 



Preso à minha classe e a algumas roupas,
vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias espreitam-me.
Devo seguir até o enjôo?
Posso, sem armas, revoltar-me?
Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.
Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.
Uma flor nasceu na rua!
Vomitar esse tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para casa.
Estão menos livres mas levam jornais
E soletram o mundo, sabendo que o perdem.
Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.
Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.
Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.
Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico

Um tipo de amor que escapole o dado posto*

Essa postura de amor,
um silêncio de murmúrios.
Não, não é de se compreender.
Aqui fez sermos o que podemos ser.
Mas, um amor livre de prisões,
vai e ama o mundo!
Todo um "ama ser humano",
resiste, invade, causa...
Essa intensidade, e o apego apenas ao inefável.
A autoridade da conquista,
a confiança, a esperança,
o discreto brilho de uma vida,
dedicada à tantas e tantas outras vidas.
Vai meu camarada,
ilumina nossa trajetória,
orgulho em vê que o melhor está entre nós.
O gosto de sal em meus olhos,
e um riso destemido...
Sim! Porque é desbravando adversidades
que nós tomamos coragem.
Estaremos à postos pros vacilos e vitórias,
em cada recanto do mundo.

*Esse poema é dedicado à um camarada que faz a vida ser vivida, sem qualquer mito de qualidade de vida, mas uma existência que permeia cada vitória de seguir a diante.

Quebrando o cenário

Um embaraço no peito,
por mais que o conforto me valha, não basta.
Foco, ser, apenas ser.
Não gosto de ser poucas coisas,
é preciso ser muito.
Chega de brincadeiras!
Quero ser tudo!
Sofrimentos alheios me tocam,
mas superações me fascinam.
O avesso da paz,
a realidade.
Pensar além da representação,
improvisar a vida.
Ator social é o caralho!
Saúde é fazer da vida o que é preciso fazer dela!

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Os esconderijos

Tempo de confusões com a palavra amor,
uma moleta, uma falta, um egoísmo.
Em nome dele se mata,
deturpa-se, oculta-se, despede-se.
Dentro o choro, fora o riso,
e a propaganda da embalagem lata.
Em algum lugar perdido apodrece.

Perdem-se as medidas,
as angústias não cabem nas calças.
O acerto de contas é declarado,
A obrigação do sentimento aprisiona.
As crianças-enfeites viram saída,
o sentido da fúnebre valsa.
Os sonhos roubados,
e a alma já não funciona.

O cego instrumentista vira incomodo,
A primavera detalhe,
A mãe, seu cigarro, o filho obeso e sua festa-comida,
banalidade.
Pra ter um filho é preciso um carro,
e quem não tem lhe espera a morte.
O nobre conforto das coisas,
escombros da ausência da coragem pela vida.
Estou doente por negar o dado posto,
na busca crônica pelo amor, teremos sorte?