sábado, 3 de maio de 2014

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Previsível

Poesia não é bula,
não adianta me seguir.
O que suas entranhas fizeram de você?
Responda!
Juntar palavras é uma arte violenta.
Machuca quem faz e quem escuta.
A cada golpe, a cada esquiva,
a palavra certa está lá, à espreita.
Uma vez me disseram que poesia é pros medíocres,
poucas palavras pra um assunto.
Me golpeou em cheio.
Entretanto, sempre é tempo de voltar.
Primeiro round,
Um jogo de cartas, uns sentimentos
Que diferença?
A forma de disputa.
Segundo round,
Futuro, passado
Em quê pensar?
Tudo, menos o próximo best seller de auto ajuda.
Terceiro round
O amor
Ah, esse cruzado de direita...
Nocaute.

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Do tamanho real

Os delírios traçaram o caminho,
mas sou pouco, quase nada.
Me sobram e faltam verdades.
Fui cansando de fingir,
e ao ser contrariada, de engolir.
Me afasto para consumir fantasias,
Desanimo, subestimo, enlouqueço.
Uma sensação de fazer tudo errado,
ter surtado, e o que penso sobre mim se desfaz.
Perdi todas as vidas, mal correspondidas.
Já sou o pouco, o resumo, o traço.
E as ideias ainda teimam em ser grandes demais.



domingo, 23 de março de 2014

Suposições

Gostaria de saber o que cada cigarro guardava, quais palavras escondia e de quanta tristeza me protegia. Hoje, com os pulmões adoecidos, percebo a indivisível sensação das dores da mente e do corpo. Sempre pensei que essa união fosse um dia a ser celebrado, mas hoje está cinza e estou de preto. Minha tosse me impede que eu respire, nem sei se eu quero respirar. No meio da noite cócegas na traqueia se transformam em cortes de açoite das pregas vocais. O que separa prazer e dor é a caixa onde foi classificado. Não me importo mais em acordar no meio da noite pra tossir, dormir pouco e levantar com os olhos inchados. Não estou forte, tão pouco fraca. Estou nesse mundo, horas eu queria que não, horas suponho que sim.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Um delírio em uma noite de verão


Sentia um desejo incontrolável ao vê-lo. Entretanto, o inverso não era verdadeiro. Queria-o tanto que se aproximara apenas pra contemplar seu sorriso e seus detalhes que o tornam único, ao menos para ela. Leu em algum lugar que se não for correspondido não é amor, por agora já não faz mais questão por nomes. O fato é que se afastara e percebera em seguida que lhe fazia falta. Deixou-se guiar por seus desejos.

Ao chegar em casa não conseguira concluir o filme, fez uma pausa para a fantasia. Mais tarde, em uma noite repleta de calor, inesperadamente o telefone toca ele pergunta se está ocupada ela responde que não. Ela o convida para escutar violão. Ele chega, ela resiste. O sabor do dia seguinte é desagradável, indigesto. Ele a compreende como um raio de sol iluminando qualquer situação, por mais sofrida que seja. Gostaria de supor seus pensamentos, mais a inutilidade desta abstração provocaria o afastamento da realidade. Falavam sobre o rio São Francisco, a marginalidade e os efeitos da pobreza. Pensamentos similares os aproximavam de fato. Mas é na faísca de um debate apaixonado que as contradições afloram. Divergiram sobre machismo. Mais cedo esse assunto surgiu, mas só então foi aprofundado. Ele pensa que uma série de modalidades de dança reproduzem o machismo. Ela está mais preocupada em se permitir o gozo nos papeis criados sócio-históricamente, mantinha a dança entre seus quereres porque acredita que aproxima as pessoas. Foi um duelo artístico, filosófico e político. Como as contradições se resolveram? Vamos à prática.

Desafio instaurado, escolheu alheatoriamente Aí que saudade d'ocê. Seus olhos se entrelaçaram dissipando a timidez, durante a introdução a mão dela buscou a dele pousando em sua cintura, a dele involuntariamente segurou com firmeza a outra mão. Seus corpos se aproximaram. Ele repetia que não sabia conduzir, que não sabia dançar. O quadril dela abria os caminhos do ritmo, e seu sorriso arrematava com leveza os acertos e os erros. Sussurrava em seu ouvido o que fazer com seu corpo, que no instante da dança é partilhado como um só. A música acabou. A mão dele envolve seu pescoço, ela enfim se rende. O beijo leve que recordara dava espaço ao beijo certeiro que até então desconhecera. O beijo que surgiu da dança, do dilema de conduzir e ser conduzida. Mas quem conduziu esta dança? O inevitável. Quem vencera o debate? O desejo. Tais conclusões se abriram em suas cabeças como uma rosa ao desabrochar da primavera, em silêncio. O acordo era que o silêncio era a beleza da situação. A mão dele já estava em seu quadril, aproximando-a do seu sexo. Abriu o zíper de seu vestido, beijou seu colo, despiu seu corpo. Então nua ela se afasta, ainda pensa no dia seguinte. Ele retira a camisa e a puxa para seu corpo. O medo é o disfarce do desejo, e ele acabara de retirar a última peça, a mais delicada e inacessível. Ela prontamente arranca seu short. Os sexos se unem, as peles derretem ao calor da cama, a guerra de sensações se instaura. Calefação de salivas, invasões de línguas, disparos nos corações, descabimentos dos corpos.

Ela se levanta, sozinha, mas preenchida de desejo. Escreve um conto de delírios para dar algum sentido ao que sente. O telefone permanece mudo. Vai arrumar a casa, enquanto canta para aguardar um novo amor, um par que lhe enxergue.


 

Saudades do verso

Onde tá o verso?
Sempre de passagem.
Nem se despede,
é um mau educado!

Gestante

Me ocorreu um canto repentino,
assumindo minhas alergias,
o mau humor, pequenas alegrias.
Gosto pela confusão nas palavras,
jogo de luz e sombra,
impressionismo.
Eu canto pra esperar o novo desejo.

Público de uma grande amiga.

Uma sexta-feira comum. Ela empunha em frente ao espelho seu celular e posta uma foto para compartilhar sua beleza exposta. Havia uma firmeza em seu gesto idêntica a quem segura uma arma certa que irá ferir o coração de alguém, ou sua cabeça. E que não seja o seu amiga, que não seja o seu. Guarde tal talento aos que pretendem ferir aqueles por quem tens afeto. De fato tua beleza impávida assusta e deslumbra, poucos se dispõem a desbravar a selva de seus encantos e permanecer deveras na tua vida. Somente os bravos reverenciam teus efeitos, esse misto de defeitos e qualidades.
Que assim seja!

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

O tempo de espera pelo amigo verso

Busco o lugar em que as palavras se escondem. Queria escrever um verso ensolarado, como o dia que raia no trem que me leva ao trabalho. Todavia, ele não está aqui. Onde foi parar meu amigo verso? Quem viu? Se você achar ele por aí diga-lhe que há muito o procuro, que desde que ele me abandonou chovo todos os dias. Fala pra ele que às vezes eu finjo que nunca foi embora, e nessas horas é pior, pois no instante seguinte cresce a sua falta, é um verdadeiro temporal.
Hoje soube que uma paciente queria fazer terapia com a nutricionista (no caso eu), que após a conversa de acolhimento que tivemos ela parecia muito bem. Fiquei emocionada, mas não achei o tal do verso. Durante um bom tempo o verso vinha numa emoção diferente, agora já não é assim.
Minhas emoções parecem afastar ele. Talvez ele apareça quando for para emocionar os outros, não a mim, não mais. Será que aquela paciente viu o verso? Será que o traria de volta pra mim? Será que ela me acharia louca se perguntasse?  Acho que sim.
Quero me preparar para sua chegada. Decorar a casa, comprar um vinho ou uma cerveja e baixar um blues até então desconhecido de meus sentidos. Já tenho intervenções poéticas espalhadas pela casa em adesivos e fotos dos meus queridos atrás da porta de entrada.
Acredito que também vou precisar de pessoas, as quais possam acolher o verso. Essa é a parte mais difícil, padeço do mal do ciúmes. Escrevendo assim parece egoísta e ilógico, visto que os momentos que o encontro não são só meus.
Acabo de sentir que ele está próximo. Estarei sempre aqui à sua espera e repleta de saudades.

sábado, 18 de janeiro de 2014

Solidão, só ouço o som do não

Objetos trincados,
semblante entristecido.
Confusão.
São dias sem notas,
desfechos inusitados.
É o ofício abalado,
o amor fictício,
uma cidade amargurada,
não saber pra quê sirvo.

domingo, 12 de janeiro de 2014

Mudanças, tempo de espera e a falta

Mudanças

Nos últimos tempos tenho percebido detalhes que não percebia antes. O quanto eu sou diferente e ao mesmo tão igual aos outros. Qualquer forma de imposição cujo o resultado é aceito ou rejeitado por ser uma imposição torna-se mero adereço ao ego de quem as impõe. Pensar junto é complicado, exige uma habilidade de expor os próprios pontos de vista  e misturar com os dos outros. Muitas vezes as perguntas são mais impactantes que as frases feitas. Estar disposto a compreender sem abrir mão dos valores e sentimentos é um dos exercícios mais difíceis que eu encontrei. Meu impulso primitivo ao ouvir algo que eu discordo é querer impor o que eu penso, com isso me afasto da possibilidade de ser escutada. Portanto, de pouco vale. Uma música fala de força e delicadeza, penso no quanto essas palavras se misturam e completam, sem se opor uma a outra. É preciso força pra ser delicado, e o contrário é completamente verdadeiro.
 
Hoje, o importante pra minha vida é bancar justamente aquilo que eu sou, os gostos que me tocam, as escolhas que faço, os sentimentos que me surgem. Mas, isso não significa que eu sou estática, o mundo me transforma, eu transformo o mundo e isso é inevitável.

Tempo de espera

Penso numa história de "apaixonamento" pela qual passo hoje, senti falta dele nesses dias, do seu riso, da sua doçura, da sua presença. E como qualquer outra pessoa em vias de "apaixonamento", fico à espreita por uma mensagem, um telefonema... Que não chega. A ansiedade é um sentimento traiçoeiro, visto que é composto de fantasia. Imaginar que o outro não está assim tão envolvido, ou que deve ser o jeito dele, ou que deve estar com outra pessoa e logo eu não sou tão importante assim. Possibilidades de inventar conclusões é o que não faltam, poderia citar músicas tanto da Sandy quanto do Chico Buarque com a mesma temática, pois é completamente humano a fantasia na espera do outro. Nenhuma delas de fato é real. O que há de real é apenas a falta, a saudade. Aquilo que sinto, que pode ficar mais forte ou desaparecer com o desenrolar da história. O controle dos pensamentos e sentimentos dos outros parece ser bastante inútil, aliás ganha utilidade nas artes, quando damos um destino nosso para nossas angústias. É preciso leveza para que o outro tenha a liberdade de dizer o que realmente sente e firmeza de bancar o que se sente.

Como a falta é preenchida

Pensando bem, é preciso tempo pra descobrir o que estou sentindo, do quê sinto falta. Do que realmente me faz falta. Sem imposições, deixando apenas que a força do sentimento adquira seu real tamanho. Pra quem esperava uma mensagem, veio um texto, que faz parte de mim. Saudações às surpresas e encantamentos da vida.