domingo, 17 de março de 2013

Arlequim


Tanta graça e virtude,
a palidez requintada afeto.
Desengonçado, leve, solto,
cercado do peso do que acha certo.
De onde brotam seus risos?
Quem semeou tal tristeza?
Eis o brilho seco do palhaço,
se lhe falta plateia fica apenas o mal amado,
quando ela existe se põe  amedrontado.
De que lhe adianta as cores que vemos?
O prazer fácil de risos amenos?
A menos que criamos coragem de vê-lo
despido de seus trajes e maquiagem.

Talita Kumy

sexta-feira, 15 de março de 2013

Ainda viro esse mundo em festa, trabalho e pão


Talvez o mais difícil dos ofícios seja o de falar o que se pensa. Os desdobramentos disso precisam ser medidos. É preciso estar cercado de certezas e ainda assim estar aberto para incertezas. Ter a humildade pra não ser arrogante e se deixar esclarecer por outros olhares. Contudo, também é preciso manter a firmeza e a convicção de ser o que se pensa e principalmente o que se faz. Sem isso não há respaldo para bancar um posicionamento. Algumas pessoas podem se perguntar porque ter um posicionamento é tão importante, penso que seja um passo importante para tornar sua a sua vida.
                Durante muito tempo fiquei calada, medi, pesei, nada arrisquei. Para muitos isso é um sinal de covardia, e em determinados aspectos até seja. Quis me cercar de instrumentos que legitimassem minha fala, consultar outras pessoas, assegurar-me dos impactos da verbalização dos meus pensamentos. Não sei se foi suficiente, mas o mundo que se abriu diante dos meus olhos ao finalmente poder falar é dialeticamente recompensador e atemorizante. O medo de ser incompreendida passa pelo sentir-se viva a partir da clareza de sentimentos. Hoje eu saí da zona de conforto e só consigo pensar nessa música...


Viramundo

Gilberto Gil

Sou viramundo virado
Nas rondas da maravilha
Cortando a faca e facão
Os desatinos da vida
Gritando para assustar
A coragem da inimiga
Pulando pra não ser preso
Pelas cadeias da intriga
Prefiro ter toda a vida
A vida como inimiga
A ter na morte da vida
Minha sorte decidida
Sou viramundo virado
Pelo mundo do sertão
Mas inda viro este mundo
Em festa, trabalho e pão
Virado será o mundo
E viramundo verão
O virador deste mundo
Astuto, mau e ladrão
Ser virado pelo mundo
Que virou com certidão
Ainda viro este mundo
Em festa, trabalho e pão

sexta-feira, 1 de março de 2013

Invisíveis



A correspondência erra o endereço,
ela não está mais aqui.
Estava quase esquecido.
Semi-calado,
adormecido em algum lugar.
É assim que tem que ser,
mesmo que se pense farta,
esqueça se doer,
não há porque lembrar.
Afinal, uma carta é só uma carta.