sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

As chuvas de verão


A chuva ácida vem corroendo os meus dias, arrancado camadas do que sonhei ser. O que eu não sabia é da tristeza profunda que sinto e ninguém há de me salvar.
Tudo escorre por entre os dedos, o tempo, a inveja, o pensamento. Enquanto tudo lá fora aparenta estar normal, e até muitas vezes ir mais além de um modo construtivo, aqui eu sigo sem entender as minúcias das coisas, detalhes se desfazendo nesta chuva.
O peso de mudar as injustiças, a leveza de aceitá-las. O peso de aceitar as injustiças, a leveza de mudá-las. A destruição é o alicerce de coisas no modo diferente. A manutenção das coisas é a destruição da superação humana. Aos poucos aprendo o que suporto, o que me destrói, a maldade que se alastra, a bondade escassa. Negar o mundo não é o suficiente, é  preciso transformá-lo. 
Então se descobre que a subversão é uma arma que defende e mata. Aprende-se que não há manual para extrair a liberdade. Alguns pensam que é saindo da casa dos pais, vejo que não. Sair do ambiente familiar carrega a contradição de viver por si, reproduzi-los, mesmo tentando ignorar tal condição. Outros pensam que é sustentando a família, ainda que subjetivamente, vejo igualmente que não. Esse movimento exaustivo, conflituoso e doentio de calar conflitos ignora o sabor da autonomia sobre a própria vida. Quando li A origem da família, da propriedade privada e do estado, fiz uma leitura alienada. Laços afetivos são conquistados, não impostos. Entretanto, escolhemos a hierarquia que podemos para sobreviver. Tanto tempo para perceber isso, tantas rupturas, tantas culpas e desencantos. Fui esquecendo as curvas da trajetória e hoje já não sei o que me sustenta.
As palavras servem pra seguir, pra doer, pra viver e ser feliz. Neste momento são chagas em meu corpo. Elas aparecem, se escondem e retornam mais doloridas e fortes.