sábado, 12 de outubro de 2013

Malandragem


                  Um dia de "cafés da manhã". Cada vez mais atrapalhada, esquecida, complicada. A bagunça impera em minha casa, quase como se não a habitasse, não consigo. O retrato do caos interno que vivo e faço um péssimo julgamento, mas eu não consigo arrumar. Parece que o Freud falou que precisamos amar para não adoecer, eu queria tanto saber o contexto desta frase. Pois ao que me parece esse amor que sinto não me serve de nada a não ser adoecer. Não é fisicamente, eu nunca tive tantos cuidados com meu corpo. Mas penso que isso deve ser apenas um passa tempo redutor de danos, afinal correr e comer bem melhoram o meu quadro crônico de angustia no peito. Paliativos para as dores emocionais.

                Ao final da tarde retomei algumas lembranças. O som, os cheiros, os músculos, as expressões, as sensações. Tudo isso está aqui, como prova que eu deixei escapar. É passado, e o mais doloroso é ter que aceitar isso. A angústia de ser tão feliz me levou a fugir, tinha que haver algo errado, como não tinha eu apenas criei uma sequencias de coisas erradas. O exílio no medo, o conforto de pensar que outra pessoa certamente o fará mais feliz que eu (sempre foi assim). A responsabilidade de fazer alguém feliz que eu me impus. Eu provoco meu próprio abandono, porque simplesmente gosto de sofrer. Porque essa dor é perfeitamente administrável e revisita-la é como me esconder na infância, no escuro, naquele lugar seguro onde estou só e não há ninguém para me decepcionar e o melhor ninguém que eu decepcione. E porque agora é diferente? Porque não escrevo mais um poema com meia dúzia de palavras que em 30 minutos eu não vou mais lembrar? Porque pela primeira vez consegui enxergar meus movimentos.

                Essa consciência é insuportável. Entre outros motivos pelo simples fato de sentir a falta dele. Com outros existia dor, mas simplesmente passava. Eu vejo várias amigas minhas tão corajosas se casando, repletas de dúvidas expressas em seus rostos, mas que se minimizam pela audácia de simplesmente viver um amor. As surpresas e o tédio do dia a dia, a partilha das histórias, as diferenças, brigas e tudo isso que eu suponho que seja o amor.

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