domingo, 1 de julho de 2012

             Algumas lições   


           Possuo algumas discografias, algumas fotos (talvez umas importantes demais pra mim outras nem tanto), um colchão de casal usado por outras pessoas além de mim assim como a minha mesa na cozinha. Possuo um armário com mais roupas que eu posso usar e talvez menos do que eu precisava em momentos especiais (sempre uso roupas novas de forma desnecessária). Acabo de comprar um dos melhores doces de leite do mundo e uma colher dele já é o suficiente pro meu cérebro gozar. Possuo também uma bi - cama que fica na sala servindo de sofá e abrigo para as visitas. Não recebo muitas visitas, o que é bom por vários aspectos e ruim pelo o principal aspecto: me sinto só. Bela porcaria, milhões e milhões de pessoas se sentem assim e fazem coisas como ir a festas, praia, cursos... eu bem sei a solução do meu problema, mas acho que não estou disposta a fazer nada disso, não por agora. Me sinto como se fosse uma cidade cheia de escombros precisando ser reconstruída, ou talvez minha metáfora esteja errada e eu precise erguer algo neste deserto.
                Acho que o primeiro garoto que eu gostei foi aos 6 anos, eu queria ser a adulta, ele nem me dava bola e eu tremia ao sentar do lado dele. Acho que eu tremia com a possibilidade dele me aceitar como eu sou. Nesta época eu ainda nem tinha conhecido meu pai. Deve ter sido a primeira rejeição da minha vida. A segunda foi a visita do meu pai. Não sei se foi pior conhecê-lo e perde-lo do que não ter conhecido. Eu gostava dos meninos da escola, aliás eu gostava de gostar deles. Me sentia diferente por escrever poemas. Sempre fui muito boa em inventar histórias, tão boa que eu mesma caia nelas, e eu sofria de verdade. O primeiro homem que eu gostei tinha 16 anos, e eu 12. Eu fiz um roteiro de filme na minha cabeça que nem eu mesma sei qual é a verdade. Ficou a versão mais bonita. Eu pintando ele entrou na aula com seus cabelos longos e negros, sua boca carnuda, e na época a Sandy gostada do Lucas da família Lima, portanto eu gostava de homens cabeludos. O pincel tremia na minha mão e no dia seguinte eu podia contar a história fantástica na escola, virando assim motivo de fofoca por gostar de um cara mais velho. Me interessei, beijei outros meninos, mas ele era minha história oficial. Tantos encontros e desencontros e eu nunca vivi nada real com ele. Eu gostava de mim e da fantasia que a minha cabeça conseguia criar. Num cenário pobre que é a atualidade, minha fantasia era igualmente pobre, mas me causava algum frisson.
                A grande questão é como se faz pra gostar de alguém e não de si mesmo. Acho que desprezo tanto a mim, que imaginar o amor nos outros é entrar em mania. Eu me amo tão pouco que me desperdiçar em troca de alguma aceitabilidade se tornou um vício. Me distanciei da possibilidade de amar/apaixonar. Sinto-me no limite entre amor próprio e orgulho. Ainda não sei mediar bem as coisas. Esta cidade e seus escombros, ou este deserto e suas tempestades não são fáceis de lidar. Ninguém falou que seria.


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