terça-feira, 25 de dezembro de 2012

O mundo sempre acaba

Abaixo os risos espancáveis!

As porções puritanas, a perfeição.

O que move é troncho, estranho e inexplicável.

E nunca está tudo bem!

Que venha o novo, o absurdo, a imoralidade.

Agora sou eu, o que eu quero ou decido.

O outro?

Ah, ele que me prove modo melhor de existir.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

30 dias


Faltou fazer amor,

Um presente, mais tempo e o brilho da manhã.

Mas estava aqui, imerso de prazer.

Na sensação que for...

Abro as portas que sempre me levam ao novo,

e os carinhos do conforto que me invade.

Sussurrando loucuras ao ouvido esquerdo,

afagando a pele-ego, olhando e sorrindo.

Ele sorrir com  sua história pra mim.

Quando o  encontro não estava marcado,

e dois seres acelerados ousam amar simplesmente,

viver intensamente,

ser felizes por agora e sempre.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Há(a) terceira pele(?)

Um labirinto de incertezas e finitudes,
retornos, estanques, coturnos.
Dissipa-se ao som ocre do silêncio,
padece-se de dúvidas, percorre-se caminhos.
Observa-se, e este é o mais valioso.
Pegar ou acolher, pouco importa...
Se há mais trancas que portas, como entrar? Como sair?
Como mover a vida? Como estacionar na morte?
Aparatos de formato humano e suas respectivas solidões,
a ausência de perguntas, a supremacia das respostas ilusórias.
Há uma população residente na fantasia,
dependentes de uma única mente.
Começa a doer cada passo,
remoí, ata, repete-se e o tempo se vai.
Expansão demográfica de espectros...
Viagens, lugares e imperfeições,
mais um conto pra falar, mais uma lembrança pra se segurar.
Embora tudo esteja caindo, falindo, indo.
No lugar o passado, a falta, os sons.
A tristeza subcutânea e suas necessidades,
a epiderme da felicidade apartando-nos das mazelas,
e a vontade de falar sobre o tecido, aquele que vai mediar as verdades.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

A FLOR E A NÁUSEA


A FLOR E A NÁUSEA

Carlos Drummond de Andrade 



Preso à minha classe e a algumas roupas,
vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias espreitam-me.
Devo seguir até o enjôo?
Posso, sem armas, revoltar-me?
Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.
Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.
Uma flor nasceu na rua!
Vomitar esse tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para casa.
Estão menos livres mas levam jornais
E soletram o mundo, sabendo que o perdem.
Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.
Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.
Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.
Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico

Um tipo de amor que escapole o dado posto*

Essa postura de amor,
um silêncio de murmúrios.
Não, não é de se compreender.
Aqui fez sermos o que podemos ser.
Mas, um amor livre de prisões,
vai e ama o mundo!
Todo um "ama ser humano",
resiste, invade, causa...
Essa intensidade, e o apego apenas ao inefável.
A autoridade da conquista,
a confiança, a esperança,
o discreto brilho de uma vida,
dedicada à tantas e tantas outras vidas.
Vai meu camarada,
ilumina nossa trajetória,
orgulho em vê que o melhor está entre nós.
O gosto de sal em meus olhos,
e um riso destemido...
Sim! Porque é desbravando adversidades
que nós tomamos coragem.
Estaremos à postos pros vacilos e vitórias,
em cada recanto do mundo.

*Esse poema é dedicado à um camarada que faz a vida ser vivida, sem qualquer mito de qualidade de vida, mas uma existência que permeia cada vitória de seguir a diante.

Quebrando o cenário

Um embaraço no peito,
por mais que o conforto me valha, não basta.
Foco, ser, apenas ser.
Não gosto de ser poucas coisas,
é preciso ser muito.
Chega de brincadeiras!
Quero ser tudo!
Sofrimentos alheios me tocam,
mas superações me fascinam.
O avesso da paz,
a realidade.
Pensar além da representação,
improvisar a vida.
Ator social é o caralho!
Saúde é fazer da vida o que é preciso fazer dela!

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Os esconderijos

Tempo de confusões com a palavra amor,
uma moleta, uma falta, um egoísmo.
Em nome dele se mata,
deturpa-se, oculta-se, despede-se.
Dentro o choro, fora o riso,
e a propaganda da embalagem lata.
Em algum lugar perdido apodrece.

Perdem-se as medidas,
as angústias não cabem nas calças.
O acerto de contas é declarado,
A obrigação do sentimento aprisiona.
As crianças-enfeites viram saída,
o sentido da fúnebre valsa.
Os sonhos roubados,
e a alma já não funciona.

O cego instrumentista vira incomodo,
A primavera detalhe,
A mãe, seu cigarro, o filho obeso e sua festa-comida,
banalidade.
Pra ter um filho é preciso um carro,
e quem não tem lhe espera a morte.
O nobre conforto das coisas,
escombros da ausência da coragem pela vida.
Estou doente por negar o dado posto,
na busca crônica pelo amor, teremos sorte?

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Recompensa


Luz no fim da tarde, fim do dia
tristeza se confunde com agonia.
A solução é pensar que tudo vai cicatrizar.
E abrir a janela da fantasia...
Chegou a hora de ser o que eu quiser,
Menina, adolescente ou mulher...
Dançar do meu jeito, assim desatinada,
lembrar de uma música pra não lembrar de nada.
Eu posso descobrir um belo poema
desse jeito não há dor que eu tema.
Deixar os olhos bem abertos pro amor,
e o coração escancarado pro que for.
Comer sem precisar me machucar,
sorrir sem precisar representar.
Chorar se preciso,
ou conversar com algum amigo.
Ficar indignada com o mundo,
pra seguir mudando tudo.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Fusos

O tempo do mundo,
o tempo do trabalho,
o tempo da minha cabeça.
Fusos desajustados,
Lá é sempre horário de verão,
enquanto vivo o ano todo beira-mar.

domingo, 28 de outubro de 2012

Seja no ar, amanhecer, saudade vem e vai, amor é quem me levará à você!


Como seguir?

Tempo e silêncio confundem-se,
juras de amor e medos também.
No alto do desejo sintomas,
na carne sofrimentos.
Mais um homem se perde,
a marcha lenta do exercito estagna.
É hora de fugir.
Escavar o que se sente,
semear novas palavras,
Precisamos ir.
Com tudo e apesar de tudo.
A história sempre segue.

Decodificando o tempo

Vestígios de dor
Tragos de desprazer
Culpas insanas
Tudo está aprendendo a passar.


quarta-feira, 24 de outubro de 2012

A mesma tribo

Nós que trabalhamos essas terra,
nelas também cantamos e dançamos.
Pra onde ir?
Sua soja não nos nutre,
Seu gado não sacia nossa fome,
Sua ganância nos mata.
Não queremos tua família,
somos uma tribo.
Não queremos migalhas,
somos a justiça.
Á beira da estrada tantos se foram,
veio sua modernidade, nosso medo.
Não acreditamos em teus chefes,
temos apenas nossas vidas.
Se não bastar, que resolva nossas mortes.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Na boa pai...


À queima roupa

Face sóbria,
ajuste dos relógios da alma,
cura-rima ou cuidados paliativos?
- Dentro?
Está certo desta pergunta?
Pois é, eu ainda grito.
Com todas aquelas coisinhas,
as que eu sei, as que esqueci e as que não vejo.
Seria de dor ou de alívio?
Talvez.
Eu sempre morro de talvez.
Lá na lápide vai tá escrito...
Aqui jaz o que poderia ser feito com a sua presença.

Não enviada (pós adolescência)


   
                Ao encontrar umas coisas perdidas em mim, o impulso foi querer lhe abraçar. Não pude. Você não estava, não queria estar por perto. Portanto, me vi só. Sei que vou sobreviver a isso, e que também há palavras pra me confortar (ainda que seja eu quem as escreva). Aprendi a manejar o incomodo da sua ausência. A falta de elementos que constituam sua figura aos poucos foi substituída por outras pessoas, e até por mim.
                Quando bem pequena, encontrei uma bolha de alegria no meio de um turbilhão de brigas. Mas os conflitos continuaram, se intensificaram com essa bolhinha. Então eu comecei a mentir, culpando outras pessoas. Eu amava essas pessoas, ainda as amo e estou triste por misturar todas elas num enredo estilo Almodóvar. Fiquei com medo dos olhares, tive o mesmo pesadelo todos os dias, até os quatro anos. Eu sei que não faz muito sentido falar tudo isso pra você em metáforas, só que foi a forma que eu pude encontrar.
                Revirando isso em mim, me veio culpa. Uma criança tão pequena não é culpada, eu sei. O problema é que foi aí que o começou essa loucura toda. Agora estou sem coragem para falar para minha mãe, não é medo, mas um tanto de não sei o que. Tá tudo tão complicado na minha cabeça. Me sinto tão estranha. Não há nada de novo em ser estranha, isso sempre me acompanhou. Fico me perguntando onde está meu jeito de resolver as coisas e pronto. Sei o que devo fazer, não faço. Não me sinto segura. E também não sei quando vou me sentir.
                De que serve minha vida? Unir minha família? Construir a revolução socialista? Ser feliz por não saber se terei outra vida? Salvar pessoas de uma vida vazia, ou melhor ocupada pelas mazelas do capitalismo? Vasculho, não acho. Talvez seja um tanto de tudo isso, ou nada. São tarefas grandes demais pra mim. Todas elas. O que depende de mim? O que dependerá dos outros?
                A frustração de não conseguir cumprir nada daquilo que me propus é pela única razão lógica da falta dos outros. A infelicidade, a dor, a tristeza, o parto, a culpa, a doença, a morte. O degrade dos sentimentos, a falta completa de arestas. Queria falar de como eu me sinto pra você. E como lidar com quem não quer saber? Será que suporta saber?
                O que me cabe é procurar formas de suportar, pois embora ainda não ache serventia para esta vida, ela é minha.

Vergonha



Resíduos humanos,
histórias mal contadas,
Ali, por trás da montanha do medo.
O desejo imerso da dor?
As nossas culpas e a feiura da vida.
A razão, a fuga, o sorriso -máscara.
Está tudo se desmanchando,
tudo vai passar, embora tudo fique.

sábado, 20 de outubro de 2012

Preguiça

Hoje tá pra existir,
a bagunça está lá,
mais o mundo está aqui.
Louça pra lavar, casa pra varrer,
pode esperar,
até amanhã, hoje eu quero escrever.
Deixa a chuva cair,
o sentimento pulsar,
a vida sorrir,
preciso dessa brecha de amar.

Três décadas e um grande rumo



(inspirado na obra Quando a Revolução encontra a Arte, de Mácia Teixeira)

Bocas são feitas pra gritar,
Ofício do desespero.
De onde ecoa a liberdade,
também brota desejo.
Erguem-se os braços,
pelas entranhas da terra,
e na escuridão da ignorância conformista,
resiste a incandescência da vida.
Tão alta, bela e cravejada de mortes,
Marx, Lênin, Moreno, Frida e Trotsky...
todos decompondo-se nesta aridez do mundo,
fertilizando a vida da nossa corrente,
Um canteiro internacional,
enfeitando o caminho pra outro rumo.
Justo, humano, apaixonado e sentimental.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Segue a rima

A gente vive e depois encanta-se,
cai depois levanta e conta,
lembra pra esquecer,
gargalha por não sei o quê,
fala esperando o silêncio, no fim da noite.
E passeia leve pelas horas pra rever...

Degustar cada traço-riso da história,
Observar o cotidiano de outra vida,
Guardar sutis delicadezas,
Suspirar por entre virgulas,
Ver o pulsor pulsar,
meio sem ter o que falar.

Que o sono traga belos sonhos,
afinal tá difícil superar a realidade,
com toda sua imensidão,
sorrisos brotando na rima dos lábios,
e o infinito como mais provável possibilidade.


quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Abaixo ao amorfobia!




Tomara que o amor te salve,
te mova, te impulsione, te torne sábio,
e que ele não te mate.
Abandone os paraísos,
sofra e se transforme,
supere seus abismos.
Goze, e se farte de felicidade.
Rompa os acordes,
Serene-se.
Pois sobre os escombros de quem ousou,
dançam corpos ignorantes,
gargalham de crueldade,
esfaqueiam quem ama.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

A safra

Degustando sentimentos, sensações e canções.
Papilas dos sentidos abertas,
Construção de possibilidades.
A necessidade da dialética,
cravejada na beleza da história.
Semeando contradições,
colhendo poesia.

domingo, 14 de outubro de 2012

O John Reed da fronteira


Não se sabe se nasceu quando teve vida,
poderia ser com o primeiro skate, o primeiro acorde,
ou ao vestir sua primeira tricolor camisa.

O menino-homem preferia o futebol,
não gosta de lutas individuais.
Prefere o time ganhando ou perdendo,
ele é um coletivo que conhece bem os seus rivais.

Sai das maçãs em busca de vida,
diverte-se nos estudos,
veio pelejar no concreto.
De todos faz equipe, libertando dos instantes mais tristes.
Alegrando com suas sacadas de mestre.

Seu ofício de aventura o fez pousar em outras terras,
não foram 10 dias, mas sua jornada abalará o mundo!
Foi do quente-úmido ao frio seco,
carregou algumas roupas, sua companheira e uma vitória.
Na volta me trouxe uma boneca peruana,
e a certeza de ser feliz por acompanhar sua história.



Este poema é dedicado ao meu grande amigo Jean Longhi

Prazer, com uma pitada de dor...


É a dor que deveras sinto e ponto.



Comecei a escrever bem pequena, sei lá... com 8 anos. Era um misto de descoberta e isolamento do mundo real. Umas rimas toscas, algumas ainda continuam. Não gosto de poemas, não os meus. E há até um tom de constrangimento quando gostam deles. Contraditoriamente ao alguém demonstrar isso há um sentimento de vaidade embutido, enlatado em mim. Se eu pudesse faria canções, notas musicais são mais certeiras e belas que palavras. Entretanto, não escrevo para embelezar o mundo, ou despertar qualquer sentimento semelhante. Escrevo pra não me entregar ao abismo desta vida-morte que é existir. Isso é bizarro porque traduz minha relação utilitária com as palavras, é um jogo de manipulação para impedir a loucura, ou quem sabe até suportar viver nela.
Em todo caso, se me cabe algum conselho, quando os seus filhos estiverem fazendo um poema que fale deles mesmos, ponham-os de castigo jogando futebol ou brincando na praça. As palavras podem ter efeitos devastadores na vida de uma pessoa. Pode impedir que eles sintam a vida, e fiquem nessa obcessão pra nomear tudo o que sentem.
Bem, se fosse pra eu ser poeta, aqueles de verdade falaria sobre a vida embaixo do cobertor na esquina da minha casa, o japonês já velhinho tentando se matar enquanto as pessoas continuavam seu almoço calmamente, as maravilhas que o Neymar vem fazendo com a bola, os terrenos da paixão do homem. Todavia (e eu pobremente ainda utilizo as clássicas conjunções adversativas aprendidas na escola), falo só de mim, sinto vergonha desse egoísmo disfarçado de beleza. Já não sei ser de outra forma. Espero aprender a ser, entre as possibilidades de reinventar-se espero poder virar poeta. Se não conseguir que ao menos encontre outra forma mais nobre de barrar minha sagrada loucura da sanidade.

Sem mais,

quem escreve neste blog.



Antropofagia do gostar

Janelas da saudade abertas,
lá vem eu, lá vem ela.
Jamais conseguirei sentir a solidão,
só me vem o repouso das palavras,
aquelas pelos queridos pronunciadas.
Ah, falta tão bela,
deve ser porque não é ausência,
uma celebração da minha própria história,
embaraçada, cravejada, transformada,
por ilustres presenças.

sábado, 13 de outubro de 2012

Promessas

Só quero falar de quem merece,
e faz algum sentido na minha vida.
O japonês velho suicida no almoço,
o cantor triste de folk do restaurante,
Freud, Marx, Lênin, Zizek...
E quem fez algum sentido um dia?
Bom proveito do que ensinei,
estou aprimorando o que eu aprendi.

Agora sem culpas


sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Resíduo - Carlos Drummond de Andrade


De tudo ficou um pouco
Do meu medo. Do teu asco.
Dos gritos gagos. Da rosa
ficou um pouco
Ficou um pouco de luz
captada no chapéu.
Nos olhos do rufião
de ternura ficou um pouco
(muito pouco).
Pouco ficou deste pó
de que teu branco sapato
se cobriu. Ficaram poucas
roupas, poucos véus rotos
pouco, pouco, muito pouco.
Mas de tudo fica um pouco.
Da ponte bombardeada,
de duas folhas de grama,
do maço
- vazio - de cigarros, ficou um pouco.
Pois de tudo fica um pouco.
Fica um pouco de teu queixo
no queixo de tua filha.
De teu áspero silêncio
um pouco ficou, um pouco
nos muros zangados,
nas folhas, mudas, que sobem.
Ficou um pouco de tudo
no pires de porcelana,
dragão partido, flor branca,
ficou um pouco
de ruga na vossa testa,
retrato.
Se de tudo fica um pouco,
mas por que não ficaria
um pouco de mim? no trem
que leva ao norte, no barco,
nos anúncios de jornal,
um pouco de mim em Londres,
um pouco de mim algures?
na consoante?
no poço?
Um pouco fica oscilando
na embocadura dos rios
e os peixes não o evitam,
um pouco: não está nos livros.
De tudo fica um pouco.
Não muito: de uma torneira
pinga esta gota absurda,
meio sal e meio álcool,
salta esta perna de rã,
este vidro de relógio
partido em mil esperanças,
este pescoço de cisne,
este segredo infantil...
De tudo ficou um pouco:
de mim; de ti; de Abelardo.
Cabelo na minha manga,
de tudo ficou um pouco;
vento nas orelhas minhas,
simplório arroto, gemido
de víscera inconformada,
e minúsculos artefatos:
campânula, alvéolo, cápsula
de revólver... de aspirina.
De tudo ficou um pouco.
E de tudo fica um pouco.
Oh abre os vidros de loção
e abafa
o insuportável mau cheiro da memória.
Mas de tudo, terrível, fica um pouco,
e sob as ondas ritmadas
e sob as nuvens e os ventos
e sob as pontes e sob os túneis
e sob as labaredas e sob o sarcasmo
e sob a gosma e sob o vômito
e sob o soluço, o cárcere, o esquecido
e sob os espetáculos e sob a morte escarlate
e sob as bibliotecas, os asilos, as igrejas triunfantes
e sob tu mesmo e sob teus pés já duros
e sob os gonzos da família e da classe,
fica sempre um pouco de tudo.
Às vezes um botão. Às vezes um rato.


Ao meu pai

Não... Ele não me pegou pela mão.
Nem me disse que estava na hora de voar.
Eu não quis.
Não queria me desfazer da segurança das grades,
do alcance da comida, do público certo pro meu cantar.
Mesmo assim me expulsou da sua vida,
retirou a gaiola, ignorou meu canto.
Deu as costas e se foi.
Desde então eu tenho ido, como ofício.
Procuro ele e não encontro, mas não desisto.
Vez em quando penso vê ele aqui ou acolá.
É pior, porque dói quando não é.
Hoje estou pensando desistir de procurar.
Aceitar que dói e pronto, não tenho gaiola mesmo.
Acho que já nem preciso.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Manual

Um soco pode te deixar bamba,
zonza, convulsiva, mas acima de tudo te deixa viva!
Tão logo defesa, tão logo esperteza,
e a certeza da vida após o golpe
na realidade é preciso muito mais pra te derrubar.
O inimigo é a morte, não o adversário.
Ele é só um parâmetro para os limites.
Essa paixão pelo mundo,
por mais que se treine é na hora da luta que está a verdade!
A ciência de se viver,
por mais que se morra é na vida que estão as oportunidades!

Live


terça-feira, 9 de outubro de 2012

Conquista

Ê, é de Iemanjá rainha pra ter
tanta exatidão depois das reviravoltas do mar,
na proteção da confiança que profundidade pode chamar...
Vivi tempestades pra chegar aqui,
dançar em sonhos da vida que eu quis.
Conquistar o respeito e o corpo fechado,
sem nenhum Exu danado a me perturbar.

Relação utilitária com o mundo


Cadê?

E quanto ao amor?
Enquanto o amor.
E tanto, amor.
E, ou?

Assaltos de prazeres

Pelo acorde, pelo velho itinerário,
entre as frestas da janela,
a porta entreaberta do armário.
Vai saltando a beleza.
Quem suporta as palavras?
E vê o que nelas abriga?
Sempre chove, e não se vê.


Do precipício

Basta um veículo, uma aposta,
pra se aprofundar.
Habitar uma vida é demasiado frágil,
um tanto intenso e covarde demais.
Vazios sem sentido,
felicidades sem motivo,
de fundo triste pra enfeitar o cenário.
No contraste que as cores vibram,
no degradê que a experiência age.
Tudo sempre esteve bem ali ao alcance,
às vezes tarda pra aprender como tocar.


Dissociações



Deixa ir, que eu venho depressa
que a correria lá fora está dispersa.
Deixa vir, que eu vejo arquipélagos dentro de mim.

O tempo me socorre a cada instante,
Meus corais morada, tão errante.
O mar leva, lava e eu já não quero que ele traga.

Iemanjá leva minha culpa,
Fecha o meu corpo das desculpas,
Inda que a maré esteja baixa, ainda nesse molhado seco.

O tempo me socorre a cada instante,
Meus corais morada, tão errante.
O mar leva, lava e eu já não quero que ele traga.

Guardar recordações da violência das águas,
Ruínas hão de aparecer,
ele vai encher até tudo transformar.

O tempo me socorre a cada instante,
Meus corais morada, tão errante.
O mar leva, lava e eu já não quero que ele traga.

Habitar as ruínas ou aprender a nadar?
Metáforas a fora, o disfarce, o dom da dor.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

O que vai restar?



Exilar-se de quem se ama,
desmoronar-se, derreter-se, afogar-se.
A vida dói como um drama ensaiado,
que nos exige improviso,
mas tá difícil, é quase morte improvisar.
Vejo o mar da culpa,
e eu não sei nadar.


sábado, 6 de outubro de 2012

Sem rimas, sem vacilos e sem delírios

Aplausos, é isso que queres?
A realidade é o silêncio,
o sofrimento calado e débil.
Indignação, é isso que pensas faltar?
Ela está lá, todos os dias,
na covardia de quem já não confia em si,
nas dores das traições sucessivas.
Nobreza moral, é isso que mudará o mundo?
O concreto é o pesar dos dias,
a auto intitulação nada vale,
há pouca prática e muitas verdades.
Vida, é essa a sua oportunidade?
As felicidades plenas do seu corpo,
ou uma vida espartana nada valem,
São duas faces da mesma moeda alienada.
Ser humano, é isso que queres ser?
Dia a dia, todo trabalho é de máquina.
Aprisionam toda coisa humana,
disso ninguém escapa.
Então me perguntas porque luto.
Um misto de gozo da cara da burguesia,
a busca pela verdade libertadora real,
com a única oportunidade de fazer minha, a minha vida.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Falta

Hoje eu chorei de falta,
não havia mais o cherinho,
nem calor, nem violão, nem verso.
Êta falta danada,
tem a minha idade e é tão nova.
Desce na minha cabeça,
e minha boca salga.
Falta... Isso move o mundo.
Mas se continuar me movendo
garanto que morro.

Procurar o mar


Tive um sonho e geralmente eu não sou de ter sonhos. Não me sinto muito confortável de contar detalhes dele neste espaço. A parte intrigante era o medo do mar. O medo de tudo inundar. De outro lado havia a segurança que o mar não subiria. Mas e se o mar subir? Se a maré encher? É tanto medo da vida, é tanto medo da morte. 




quarta-feira, 3 de outubro de 2012

O toque do amor

Sinto, sentes, sentimos...
É o amor na ponta dos dedos.
A vida em seus detalhes,
aqueles que mais nos tiram do sério.
Os músculos da face desabrochando,
o acaso, a conversa, o reflexo da reflexão.
A força insana que só o gostar guarda,
Me deixe produzir este silêncio,
a ressalva exata.
E construir a calma para o inesperado.
Dança aqui em meu peito,
celebrando a união humana, profana, banal.
Preciso da terra pra ganhar o mundo,
careces de sol para brotar.
A isolidão companheira vem semeando,
enquanto multidões colhem a safra do amar.

Um "como vai?"

Na mente o clichê
quero tanto, pronto, bruto
saber de mim
saber de você.
Lembro do amor...
sincronismo, sarcasmo, sorriso.
Ele se mudou,
levou os defeitos que eu não via,
com todas as qualidades multiplicadas.
Moro no vazio.
Na revelação em cada dia, o sentido.
Igual ausência sem físico.
Horas nunca existiu, história.
Instantes de saudades presente, resquícios.
Segue, sigo, segues...
Verbos vazios,
não sem contradições.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

O custo do voto

Parei pra pensar que o voto não custa nada, mas custa muito. Não custa dinheiro pro trabalhador, embora custe algumas migalhas para quem paga por ele. Custa muita ilusão que alguém mudará nossas vidas. Custa muito tempo para a gente descobrir que só com outros trabalhadores mudaremos algo, na verdade mudaremos tudo.

domingo, 23 de setembro de 2012

Olha ela...

Cerâmicas em trapézio,
hoje saio pra rua.
O coração acelera, estou só.
É preciso sair.
Vejo sangue no espelho,
notícias afloram a criatividade.
Na avenida as borboletas,
elas se criam em meu corpo.
Despido-me de orgulho,
envermo-me.
Pontas de um iceberg em chamas.
Improvisos. Doces e gelados.
O que fazer quando as perguntas não brotam?
E quando as respostas nos faltam?
Nada.
Escrevo por mim e pra trazer alguém,
algo que me salve do surrealismo desta vida.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Sem sentido




Tropeços em encartes,
topadas doloridas em dilemas.
Cortes.
Do surreal ao concreto,
do velho  ao novo,
da vida à morte.
Tantas coisas padecem,
já não servem.
Traço inevitável de isolidão.
Jeito certo.
Será que brotará algo?
Seco chão de palavras.
Nada, nada aconteceu.
Histeria, delírio e chuva.
Quem semeará a semente?
Qual poderá ser fruto?
Que seja o tempo.
E venha longo ou curto.
Entranhas estragadas,
doloridas sem cuidado,
infértil sem colheitas.
Tudo que surgiu hoje dissapa-se.
Mentiras.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

A nova dama da lotação



                Qual a diferença entre uma menina, uma mulher e uma mulher que já teve orgasmos múltiplos?

A pecadora
                Ainda menina Katianne despertava olhares em  todos os lugares que frequentava. Na escola era um aluna dedicada, na família uma filha exemplar, na igreja uma fiel no senhor, e na rua a morena mais gostosa. O fato de esconder-se atrás da saia longa, do cabelo preso, da blusa composta, não impedia que suas curvas saltassem na imaginação de todos os homens. Absolutamente todos.
                Os sábados guardados por deus, também eram tentados pelo desejo. Pastor Erivaldo se esforçava para não vê o pecado naquela calcinha pequena embaixo da saia. Ele sabia que era pequena porque quando ela andava aquele volume da costura na beirada da calcinha fazia o favor de ser bem menor que o espaço da sua bunda.
                Numa dessas lutas contra seus instintos, Erivaldo pregou:
                -Pecador, pecador! Satanás vem nos atentar em todos os lugares. Mas o senhor salvará todo aquele que resiste. Glória irmãos! Eu resisto, eu serei salvo! Glória irmãos!
                Os 15 anos da Katianne guardavam algumas surpresas. Na igreja ela conhece Cleyton, rapaz correto, trabalhador e que guardava um profundo sentimento de amor pela pequena. Brigava apenas quando escutava o que os outros homens com quem convivia falando das delícias de sua amada. Queria namorar a moça para ter a certeza que todos haviam de respeitá-la em nome do senhor. Quando em fim tomou coragem após o culto, a moça surpreendida e meio tímida aceita se relacionar com o irmão.
                Mas como era difícil resistir as curvas de Katianne. Após o culto como de costume os dois saem para namorar, Cleyton está prestes a explodir de tesão. A cada carícia mais ardente ela trava e vai para casa pensando em seu pecado. Enquanto Cleyton vai para casa masturba-se sonhando com o dia em que vai gozar na sua amada.
                Com o abismo entre o desejo da descoberta do seu corpo e o sentimento de pecado, Katianne foge mais uma vez das carícias de seu namorado. Chega a casa de sua amiga e se depara com a revista feminina falando em orgasmos múltiplos, mesmo se sentido pecadora não consegue parar de ler. Dali em diante a curiosidade impera sobre sua moral.
                Sem que percebam ela rouba a revista. Ao voltar para casa pensa em seus atos e é tomada pela culpa novamente. Para se redimir começa a orar, vai lê a bíblia chega no trecho  “Amarás a teu próximo como a ti mesmo” (Romanos 13.9).  Louvando ao senhor pensa:
"Se temos que amar os outros, como a nós mesmo, isso significa fazer bem aos outros, orgasmos farão bem tanto a mim quanto ao outro.  Portanto não há pecado, desde que eu cuide do meu corpo, da minha vida e da do Cleyton."
Estava ali a justificativa moral que precisava para se render aos desejos pelos carinhos de Cleyton.
A busca pelo orgasmo
                Havia todo um misto de ansiedade e curiosidade pela penetração. Cleyton já não conseguia segurar-se ao saber da elaboração de sua amada. No mesmo dia pede dinheiro emprestado para alugar o quarto de uma pensão familiar discreta.
                Suas mãos afagavam-lhe os seios da pequena, firmes e pontudos. Depois acariciou seus cabelos, sua pele. Todavia, Katianne queria mais. E, mais rápido que em qualquer fantasia de Cleyton ela se pôs nua. Antes que perdesse a ereção, o rapaz meteu o pênis na vagina encharcada de desejo. Gozou mais rápido que qualquer fantasia de Katyanne. Os orgasmos não vieram, mas a pequena já descobrira na sua coleção de revistas femininas que a primeira vez não é lá das melhores.
                O problema é que não foi melhor nem na segunda, nem na terceira. Katianne tomou coragem e falou para Cleyton:
                - Amor, deus não tem me dado a glória do orgasmo.
                A insegurança toma conta do rapaz, que com toda agressividade das palavras responde que isso é coisa de pecadora. Dali em diante a vida do casal tornou-se um inferno. Cleyton cada vez mais ciumento, proibia Katianne até de sair com seu irmão de 12 anos. O medo de perde-la era tal que ele começa a culpa-la por ser estranha. A mulher inicia seu martírio de dor, tenta fazer tudo que as revistas indicavam e nada adiantava. No culto, enquando o pastor ordenava que tivessem fé no senhor, ela implorava pela graça do gozo.
A culpa da mulher
                Dias, meses, anos se passavam e nada mudava. Cleyton cada vez mais ciumento, Katianne cada vez mais culpada. Já não saiam mais. Ela se sentia diferente de todas suas amigas que viviam comentando das maravilhas sexuais. No caminho para escola, no ônibus, elas riam alto e conversavam baixo contando vantagem para vê quem já tinha gozado mais. O cobrador volta e meia escutava as conversas. Quando as jovens se percebiam já escapavam os olhares de malícia pra cima dele. Havia um tom de sacanagem entre "fingir que o outro não escuta" e "fingir não escutar". Enquanto isso Katianne sempre questionava que era uma mentira os orgasmos múltiplos, mas para seu desespero choviam conselhos indicando paciência. Passaram-se 5 anos e a paciência ainda não lhe trouxera o orgasmo tão sonhado.
                Começava a pensar que era tão pecadora, tão fracassada, que o próprio deus não lhe dera a graça da alegria no amor. Chegava a ter sonhos, fantasias, mas ao se deparar com a realidade dos encontros sexuais com Cleyton pareciam não ter sentido algum.
                Quando começou a entrar na dúvida cogitando a possibilidade do problema estar no seu corpo. Então decide procurar ajuda.
A médica
                Às escondidas dá um jeito de conversar com a ginecologista do posto. Flávia tinha por volta dos seus 26 anos, mulher dedicada ao ofício e muito querida na comunidade. Tinha um trabalho em especial com as moças evangélicas, estabelecia uma relação de confiança e descrição. Examinou Katianne:
                - Você está usando camisinha?
                - Sim, eu tenho que cuidar do meu corpo em nome do senhor. Não posso engravidar, ainda não terminei meus estudos e uma criança deve ser querida com a glória de deus. Eu e Cleyton queremos nos casar na igreja e nossos pais não vão entender se descobrirem que já celebramos o amor de deus.
                - Bem, os resultado dos exames foram ótimos. Está tudo bem com você querida. Que bom que você entende suas responsabilidades.
                - Mas doutora, deve ter algo de errado comigo!
                - Porque? Você está sentindo alguma coisa? Alguma dor?
             - Esse é o problema. Eu sei que as mulheres sentem orgasmos, até múltiplos. Eu não sinto até agora.
                -Bem, paciência para descobrir seu corpo Katianne.
                Desolada com o que a médica falou, segue a tentar mais uma vez achar os tais orgasmos. Nada acontece. Clayton grita com ela, afirma que ela não o ama, que vive em pecado e começa a segui-la. Não gosta das conversas com a doutora, mas ela insiste em ir escondido...
                - Já é a terceira vez no mês que você me procura Katianne. O que você realmente quer?
                - Doutora, eu quero que o senhor me conceda a graça do gozo!
Já sem paciência Flávia responde:
                - Não há absolutamente nada de errado com você! Se não foi com seu namorado será com outro homem. Mas isso não sou eu quem resolve, é você.
                - Isso é um absurdo doutora, eu amo Cleyton, vamos nos casar e ter uma família em nome de deus.
                Katianne saí atordoada com as palavras da médica. Enquanto Flávia suspira inconformada pensando:
                - Algo de errado? Num corpo desse como ainda pode caber essa pergunta. Pecado é pensar assim.
A briga
                Ao sair do posto de saúde, Cleyton a esperava. Expressão de raiva e rancor. Segura bem forte no braço dela e começa a gritar:
             - Eu disse que não quero você conversando com essa perdida! Ela fica enchendo sua cabeça contra mim! Você quer que eu te deixe? Nenhum homem vai querer você!
                - Me larga! Você não entende nada! Me deixa sozinha!
                Ela pega o ônibus de volta para casa.
A decisão
                No mesmo ônibus que lhe leva à escola ela vê aquele cobrador. Robson é um rapaz moreno, usa a camisa aberta os 3 primeiros botões, por conta do calor. A calça do uniforme é de um tecido sintético, que deixa vê o volume das suas coxas trabalhadas pelo futebol. Muita conversa mole, cavanhaque e cheiro de desodorante. Ele percebe a presença de Katianne. Dessa vez, ela não desce no ponto de costume e seu instinto galanteador começa a aflorar.
Enquanto isso, Katianne atordoada, mistura todas as frases que lhe confundem a cabeça:
"Se temos que amar os outros, isso significa fazer bem aos outros, orgasmos farão bem"
"Não há absolutamente nada de errado com você! Se não foi com seu namorado será com outro homem. Mas isso não sou eu quem resolve, é você."
"Nenhum homem vai querer você!"
                Diante da confusão instaurada ela vê os ombros largos de Robson e decide descer no ponto final. Abre os dois primeiros botões da camisa, solta os cabelos, chega até ele e fala:
                - Oi! Eu quero você!
                - Olá gatinha, vi que você não desceu no ponto tava aqui só te sacando.
                - Certo. Eu vou falar de novo, já que você parece não compreender. Eu quero você!
Ela se debruçou sobre Robson evidenciando seus seios. Disfarçando a surpresa ele responde:
                - Vamos passear um dia então gata?
                - Eu não quero passear, quero transar com você. Amanhã.
Antes que o nervosismo atrapalhe o canalha ele responde:
                - Claro minha linda, amanhã a noite nos vemos.
A trepada
                O dotes físicos de Robson não chamavam muita atenção de Katianne. Na verdade ela decidira por um cara experiente. Isso lhe bastava. Nessa noite ela mal dormiu pensando o quanto se aproveitaria daquele mulherengo, e que finalmente saberia se o problema era ou não com ela. Enquanto isso, Robson acabava com o estoque de catuaba do bairro, com medo de fazer feio diante daquela morena.
                Marcaram de se encontrar na casa de Robson. Ela nem sequer colocou o primeiro pé no chão. Robson levantou Katianne pela cintura com um dos braços e lambeu o seu pescoço até a orelha depois sussurou ao mesmo tempo que apertava sua coxa:
                - Aí, que morena gostosa!
                Chegaram no quarto nus, completamente tomados pelo tesão. Robson lambeu seus seios e mexeu em seu sexo enquanto Katianne o masturbava e gemia. Ele beijou sua barriga e fez sexo oral nela por uns 15 minutos, quando ela implorou pra ele meter. Ele agarrou-a pela cintura e ela ficou em cima dele. Uma mulher escultural que despertou um gemido involuntário de "gostosa", Katianne divertia-se com aquele elogio e galopava em cima dele. Ele a deitou novamente cruzou sua perna pra apertar aquela bunda enquanto penetrava nela. Foi um festival de delícias e gemidos. Com todos os orgasmos dignos da metamorfose da mulher.

A metamorfose
                Ao voltar pra casa Katianne percebeu que orgasmos múltiplos significam prazer em múltiplas dimensões, sem bloqueios. Terminou o namoro com Cleyton, que a perturbou por uns 6 meses ainda. Teve aulas especiais de sexo com o Robson por volta de um ano, sem envolvimentos maiores. Os homens continuavam a olhar e pensavam "cada dia mais gostosa", entretanto agora Katianne podia sentir seus olhares. Chegava a esboçar um sorriso soberbo ao ter consciência do que realmente era: a mulher mais gostosa do bairro.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Exclame-se!



Depare-se com o inconsciente!
Quicando, saltando, flertando... por aí!
Abra as cortinas dos mistérios da vida!
Movendo-se, esquivando-se, observando-se!
Caia na real e more perto dos perigos!
Vivendo, buscando, conscientizando e.

domingo, 16 de setembro de 2012

Roubando almas



Revelei algumas fotos ontem. Selecionei algumas pessoas dos últimos tempos. Meu apartamento é tão pequeno, precisei encher de gente. Só me percebi disso quanto estava arrumando as fotos na porta de entrada. Os índios não gostavam de fotos pois acreditavam que elas roubavam a alma. Como uma ladra de almas me sinto aprisionando os momentos especiais com essas pessoas. Daqui pra frente não sei o que será delas, mas elas passaram na minha vida, umas me transformaram mais outras menos. Olhar para elas todos os dias vai ser uma experiência interessante. Talvez me deixe mais nostálgica, um tanto triste ou feliz. O que importa mesmo é ter vivido com elas.
Hoje estou exatamente no lugar onde quero estar. E ao contrário do que muita gente é levada a pensar estou em movimento, este é o meu lugar favorito.

sábado, 15 de setembro de 2012

Meter



Métrica, rima, soneto...
Estrago tudo!
Nada disso guarda a beleza do mundo.
Velhas canções exatas,  provocantes,
nesse turbilhão de sensações.
Horas degusto a vida,
mas sempre acabo por devorá-la.
Ah, indigestão de sentimentos.
Qual será o antiácido?


Entre as partes



Eu não te faço bem,
e me escondo nos teus pensamentos.
Não há inteiro nem metade,
estamos partidos.
Quem juntará os pedaços?
Seriam os risos?
As falas?
As distâncias?
Ou meus nervos de aço?


Aprendendo a amar



Ele cantou pra mim,
enfeitou minha presença.
Me chamou de preta,
dançou nas minhas chaves.
Despedida da carne...
Morada em instantes felizes.
Queria aceitar todo o mundo assim,
do jeito que é e por tudo que faz.


quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Sem ensaios

Anti ácido de cálcio,
vertigem,
sono,
dor.
Acordo. Acordo?
Cadê a corda da vida?
Hábito de gostar,
tesão em viver.
Onde? Quando?
Estabanada, calada,
Estou me pondo.
Não adianta negar,
um sei lá o quê permanece.
Ainda que tudo raia,
que da vista saia.
Cada lembrança permanece aqui.
Rejeições e interjeições,
e a busca por suportes.
Não era tempo,
Será um dia?
Me privo.
Tudo continua,
influencia das coisas,
quem dera me desligar.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Perpendicular


Na janela eu vejo o temporal
homens chovendo sem parar
nas ruas o caos
aqui dentro, eu insisto em raiar.
O peso das coisas que eu te disse,
produzem sombras do que eu sou.
Posto sol da nuvem que se desfaz,
refaço meu coração.
Dias em que renasço e lá em baixo a chuva,
me procure e brote vida em si.
Aquela nova canção, aquele novo poema,
Pois eu preciso de meu ofício de acalentar a vida,
e você precisa de mim e desse temporal.
Agora eu tudo entendo.




terça-feira, 4 de setembro de 2012

Vida e liberdade



Ele
Me apareceu um convite pra tocar...
Não pude recusar,
agora estou a caminho da rodoviária.
Desculpa não ter avisado,
foi uma correria só.
Ela
É teu caminho, como posso te desculpar?
Vai e traz teu sorriso que é tudo o que me basta.

Aquele presente


Minha aspirina, meu poema e sol raiando.
Hoje vou te encontrar.
O tempo suspenso, as curvas do caminho,
a paz de uma vida cheia de sentido,
é dia de noite da nossa história.
Libido.
Canta pra mim?
Canta comigo?
E sorri daquele jeito vivo.
Me desfaz as angústias,
me leva pras nuvens,
se abriga aqui, do frio e das chuvas,
logo cedo bate suas asas,
me mostra o relógio do meu tempo de aprender a voar.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Pânico, vertigem, obsessão.

Controlar as ansiedades é uma das maiores qualidades do ser humano. Há um grande esforço da minha parte para tentar criar tal característica no meu humilde ser. Ontem subestimei o grau das minhas ansiedades, e veio a tona o que há de pior em mim. Tenho medo disso se repetir novamente, preciso escapar de tudo isso. Voltarei a pintar, a Talita de 15 anos precisa voltar.

Aos leitores deste blog desculpas pela ausência de arte e utilização dos vossos intelectos como confessionário.
Sintomas: gripe, dor de cabeça, ansiedade e falta de concentração. Diagnóstico: solidão crônica. Tratamento: preencher a vida de gente, sentimentos e arte.


quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Me diz onde eu fui parar?


(mais uma história de amor)


Ali, depois daquele pé de manga,
os dois rios se encontravam.
Em tempos de seca,
o rio que era dois matava a sede da cidade.
Em tempos de chuva,
tudo ao redor florescia, os bichos corriam, o povo festejava.
Até chegar a Razão, aquela que de tudo sabe.
Mudou o curso de cada rio,
disse abastecer duas cidades.
Na seca, a escassez de água matou gado.
Na chuva, o lugar do encontro ficou alagado.
Foi muita água, a cidade sumiu, a vida se foi.
Culparam a Natureza, era a única que tinha ficado.
Ela tentava se explicar que precisava de tempo para tal mudança.
Até que alguém gritou:
- Onde foi parar a Razão depois de ter errado?

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

À espreita



Esperando o sangue,
a toalha ainda branca,
quase amarelada de uso e tempo.
O atraso, a trava, a tristeza,
vírgulas e mais vírgulas de angústia,
e de razão morre o ponto final.
O sangue chega de onde não deveria,
bate, corta, mal gosto de boca.
Já não sei quem é avesso de quem,
ele não vem e tenho medo da dor não cessar.


*Foto do ensaio fotográfico fantástico da revista canadense Vice  com o nome: "There will be blood" (Haverá sangue)

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Aquilo que não ouso tocar


Pior que ser enganado
é ser enganado mais uma vez,
e não perceber o obvio,
pra não ter que sofrer.

É! Valeu!
Tantos mortos e nada mudou!
Nossa estima baixa, perdida no tempo em que alguém apostou.

Pior que ler o resumo do livro,
é confiar num comentarista qualquer,
e defender absurdos,
por não ter tempo pra ler.

É! Valeu!
Tantos mortos e nada mudou!
Nossa estima baixa, perdida no tempo em que alguém apostou.

Pior que querer mudar o mundo,
é aceitar tudo do jeito que está,
e tomar fluoxetina aos 27 ou beber até vomitar,
por não saber o que deu errado.

É! Valeu!
Tantos mortos e nada mudou!
Nossa estima baixa, perdida no tempo em que alguém apostou.

domingo, 19 de agosto de 2012

Entre tanto

Depois de escavar nossas almas,
O que resta?
O que se vê não é falado.
Dois rasos vasos incontestes.
A beleza autodestrutiva,
Camada da falta de vida.
O sexo matinal,
Poeira daquele passado.
O café cordial,
Dissabores da vida.
O que fazer?
Os talheres falam mais que nós.
Ambiguidade dos desejos.
Despindo a história,
Aprofundando o perigo.
Pensamentos de várias espécies,
Fósseis nossos ou de outros.
Nossas liberdades nos aprisionam.

domingo, 5 de agosto de 2012

Um final feliz


Nos cabemos em qualquer lugar, um no outro. Pelos corredores do prédio, pelas ruas e praças. Não há palavra que possa desenvolver essa explosão de vida que brota em nós. Quadros, fotografias, filmes, músicas, poemas, crônicas, livros, perfumes, gostos, peças, texturas, esculturas... a beleza que partilhamos só poderia se aproximar com a expressão em todas as artes. Ainda assim, não conseguiria registrar de uma só vez nossos momentos. Trata-se de vida, meu caro. A vida que nem eu nem você teremos separados.
                Aprendemos juntos a nos descobrir. É um labirinto de emoções superiores da existência humana. Seu toque, o nosso som com a sua entrada em meu corpo, os beijos a serem descobertos, os líquidos dispersos,  o encaixe exato, os inúmeros tipos de orgasmos e gemidos. Não deixo de mencionar aqueles que ainda não foram descobertos. Elaboramos juntos essa forma de amar.
                Me deparo com a beleza reduzida das lembranças. Cada um segue seu caminho. Você desistiu dessa beleza, talvez prefira outras. Eu terei outras belezas pra viver também. Desnecessária a forma como conduzimos este final, mas é o que temos agora. Ella Fitzgerald, a trilha sonora do ultimo ato seguirá em minha lembrança. Retratos, conversas, e recordações vão tomando distância. Nunca saberemos o que poderia ter sido, o que foi se foi. Me restou mais um poema.

Fim
Primeiro se vai o cheiro,
a lembrança vai ficando distante,
o que poderia ter sido se esquece.
Seguimos.
Entre outros corpos, a procura.
Até chegar o novo
e assim poderemos nos libertar.


Pode um ser humano amar ter o outro?


                Muito se fala de fidelidade, amor livre e traição. Penso que as formas estabelecidas de relacionamento devem obedecer uma única regra: a sinceridade. Falando assim até parece mais um clichê de auto-ajuda, talvez até seja, reconheço que há um tom de utopia nessa afirmação. Mas se não somos sinceros corremos o risco de que a pessoa com a qual nos relacionamos perca a esperança nas pessoas e com isso restringimos através de mágoas futuros relacionamentos. Aprisionamos os outros e nos tornamos medíocres.
                Partilhar a vida com alguém é um ato de muita coragem e que envolve uma porção de sentimentos. Vai desde desejo, passa por admiração e paciência até chegar na ternura. É muito ruim quando só um dos lados sente isso e está disposto a assumir todos os atos. É tão frágil descobrir que nunca teremos o outro, sempre teremos momentos.
                Tive momentos muito intensos, não me arrependo de tê-los vivido. O problema é que eu me dispus a assumir essa coisa difícil de relacionamento partilhado, comumente chamado de namoro. A outra pessoa não. Agora me restam as lembranças, as cicatrizes da falta da sinceridade e uma vontade de não apostar nesse tipo de relação.

sábado, 4 de agosto de 2012

O segundo grande amor

Ela sorrir até o limite da conveniência,
como uma loja de utilidades que só serve à emergências.
Ela têm mistérios administráveis,
minha época de Sherlock já passou.
Ela já trepou com outros caras,
e sabe mais que eu sobre sexo, sinto inveja.
Ela acredita em coisas que não existem,
ela quer mudar o mundo, eu nem acredito e nem quero.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Retomadas, tomadas e o desligar


       Sua volta parecia nem ter a partida, mas teve. Até onde podemos acreditar em uma nova pessoa? É tentador quando alguém te pede desculpas e se dispõe a fazer tudo certo. Mas e essa sensação que é tudo encenado? Acho que deve ser por isso que relacionamentos antigos tendem ao fracasso. Ou seja, a mudança pode até ter ocorrido, entretanto a desconfiança impera como um alerta sobre os 5 sentidos. Daí surge a sensação de incapacidade de ser completamente feliz.
                Saber dar o fim nas histórias é uma arte. Trata-se de algo que eu aprendi com tempo e solidão. Esta viagem para dentro que eu ouso fazer todos os dias vem demonstrando que muitos erros ainda doem e que eu não consigo acreditar tão facilmente assim nos outros. Pela primeira vez minha auto-preservação falou mais forte.
                Acho importante quando alguém que nos decepciona toma a decisão de retomar as relações identificando seus erros e admitindo os que não conseguiu enxergar, afinal nunca sabemos onde machucamos os outros. Só que ainda restava alguma coisa pra viver, eu tomei a decisão e vivi. E como fala a música continuar a trajetória é retroceder. Aprendi a não ceder, e principalmente a não retroceder.
                As histórias precisam de um desfecho, algumas tem continuidade em nossa imaginação, mas nenhuma película dura para sempre. Não há público para tal. Fui me desligando desta história aos poucos, sem me perceber disso. Não nos falamos hoje, não sinto falta, não sinto nada. Só há letreiros subindo e a vida dando mais uma desligada.



sexta-feira, 27 de julho de 2012

Férias com a família, ou sem ela.


                Família é um festival de incompreensões. Valores morais sem sentido, rupturas e prisões. Tentamos, acima de tudo, nos relacionar. Com todas essas humanidadesinhas cotidianas que insistem em não ter cabimento. Até que chega a hora da ruptura, que bem pode ser compreendida como mais incompreensão. Mas como assim você irá abandonar sua família? Eu não abandonei. Sei de cada fato que acontece, sei das reformas, das brigas, das flores se abrindo e da dança dos famosos. Eu só não suporto conviver com tudo isso. Acredito que cada um deva ter o direito de escolher com o que suporta ou não viver.
                Há tanta melancolia no olhar da minha mãe, mesmo quando ela fala da felicidade absoluta na qual ela acredita vez ou outra viver. Trata-se de uma sonhadora, ela não suporta a realidade. Uma artista que driblou a vida e desenhou sua história com muito trabalho. Entretanto, eu não suporto a forma como ela trata quem trabalha para ela, nem ao que ela está submetida. Sinto asco por status social e toda a corja política que a humilhou durante todos esses anos.
                Confesso que é bem cômodo pensar que tenho um pequeno abrigo, caso meu frágil emprego assalariado dê errado. Preciso me livrar desse pensamento para poder libertar minha mãe. É difícil entender tudo isso. Pior ainda é ser o fio que une a família. É muito pesado tá no meio desse chumbo trocado, ainda mais se for de cara.
                Vim passar as férias no nordeste por saudades de várias coisas e pessoas. Me surpreendi com meu irmão, ele está bem melhor do que eu esperava. Consegui até passar 48h sem sentir ódio dele. Um feito.  O buraco é mais em baixo com minha mãe. Ela trabalha de uma forma alucinada pra manter um pesadelo que até hoje não teve fim. Eu não posso fazer nada. Vejo a morte se aproximar dela e não posso dar vida. É frustrante, porque eu tenho um trabalho que dá vida às pessoas, que demonstra outras formas de viver. Eu não consigo fazer isso com a minha mãe. Então eu me pergunto se a família estivesse junta, se seria diferente, a verdade é que não nos suportamos. Nos amamos e não nos suportamos. Essa é a realidade. É o real fim da família, da propriedade privada invadida pelos políticos que odeiam minha mãe e do Estado. O problema é que a classe vitoriosa é a burguesia. Por pouco tempo.

domingo, 22 de julho de 2012

Como fazer para viver num mundo repleto de dúvidas?


Nossa geração cresceu cheia de dúvidas que hoje se transformam em dívidas. As parcelas de cada mês nos proporcionam pequenas brechas de prazer, ou daquilo que é vendido como prazer. O cartão de crédito é um forte aliado contra o mundo, um grande companheiro. Não só "temos", como propagandeamos que "temos" nas redes sociais, numa tentativa de prolongar o gozo do possuir. Mas as parcelas sempre são mais longas que aqueles instantes de felicidade. Conhecemos mais coisas, lugares, notícias e pessoas. Ao mesmo tempo não conhecemos nós mesmos, e o tempo fica cada vez mais raro para o árduo ofício de se conhecer.
Caro leitor, não pense que este texto é um alarde pessimista. Trata-se de uma constatação, estamos assim com tudo que há de bom e ruim junto. Temos acordo sobre a urgência imediata de viver confortavelmente, viajar e ver novidades. Sem isso a vida desbota, afinal precisamos vê o fruto do nosso trabalho e ser feliz com ele. Contudo o problema se localiza exatamente na nossa vida privada que vem nos privando das nossas próprias dúvidas acerca do mundo.
Exemplifiquemos com os dilemas que são de ordem prática, do tipo como eu posso ter tantas coisas sem um real aumento salarial que cubra a inflação? Quanto tempo da minha vida eu dedico a trabalhar para sustentar os juros do banco? Estas perguntas podem até surgir, mas não há tempo nem condições de bancar as respostas. Assim, chegamos a mais uma reflexão sobre as dúvidas: nem sempre conseguimos solucioná-las. É o império do medo da incapacidade traduzido "no deixa pra lá".
Apesar de ser o último parágrafo e haja uma necessidade de desfecho, não há muita solução para os dilemas nossa geração, sejam as dívidas ou as dúvidas. Aliás, não há nada acabado. Quem sabe as próximas gerações nos superem em suas elaborações sobre a vida, unindo os pedaços de pensamentos e fatos que insistimos em separar por medo de ousar sair da nossa frágil vida privada. Ou poderemos de alguma forma comprar as dúvidas de alguém