Comecei a escrever bem pequena, sei lá...
com 8 anos. Era um misto de descoberta e isolamento do mundo real. Umas rimas
toscas, algumas ainda continuam. Não gosto de poemas, não os meus. E há até um
tom de constrangimento quando gostam deles. Contraditoriamente ao
alguém demonstrar isso há um sentimento de vaidade embutido, enlatado em mim.
Se eu pudesse faria canções, notas musicais são mais certeiras e belas que
palavras. Entretanto, não escrevo para embelezar o mundo, ou despertar qualquer
sentimento semelhante. Escrevo pra não me entregar ao abismo desta vida-morte
que é existir. Isso é bizarro porque traduz minha relação utilitária com as
palavras, é um jogo de manipulação para impedir a loucura, ou quem
sabe até suportar viver nela.
Em todo caso, se
me cabe algum conselho, quando os seus filhos estiverem fazendo um poema que
fale deles mesmos, ponham-os de castigo jogando futebol ou brincando na praça. As
palavras podem ter efeitos devastadores na vida de uma pessoa. Pode impedir que
eles sintam a vida, e fiquem nessa obcessão pra nomear tudo o que sentem.
Bem, se fosse pra
eu ser poeta, aqueles de verdade falaria sobre a vida embaixo do cobertor na
esquina da minha casa, o japonês já velhinho tentando se matar enquanto as
pessoas continuavam seu almoço calmamente, as maravilhas que o Neymar vem
fazendo com a bola, os terrenos da paixão do homem. Todavia (e eu pobremente
ainda utilizo as clássicas conjunções adversativas aprendidas na escola), falo
só de mim, sinto vergonha desse egoísmo disfarçado de beleza. Já não sei ser de
outra forma. Espero aprender a ser, entre as possibilidades de reinventar-se
espero poder virar poeta. Se não conseguir que ao menos encontre outra forma
mais nobre de barrar minha sagrada loucura da sanidade.
Sem mais,
quem escreve neste
blog.
Nenhum comentário:
Postar um comentário