Nos cabemos em qualquer lugar, um
no outro. Pelos corredores do prédio, pelas ruas e praças. Não há palavra que
possa desenvolver essa explosão de vida que brota em nós. Quadros, fotografias,
filmes, músicas, poemas, crônicas, livros, perfumes, gostos, peças, texturas,
esculturas... a beleza que partilhamos só poderia se aproximar com a expressão
em todas as artes. Ainda assim, não conseguiria registrar de uma só vez nossos
momentos. Trata-se de vida, meu caro. A vida que nem eu nem você teremos
separados.
Aprendemos
juntos a nos descobrir. É um labirinto de emoções superiores da existência
humana. Seu toque, o nosso som com a sua entrada em meu corpo, os beijos a
serem descobertos, os líquidos dispersos, o encaixe exato, os inúmeros tipos de orgasmos
e gemidos. Não deixo de mencionar aqueles que ainda não foram descobertos. Elaboramos
juntos essa forma de amar.
Me
deparo com a beleza reduzida das lembranças. Cada um segue seu caminho. Você
desistiu dessa beleza, talvez prefira outras. Eu terei outras belezas pra viver
também. Desnecessária a forma como conduzimos este final, mas é o que temos
agora. Ella Fitzgerald, a trilha sonora do ultimo ato seguirá em minha
lembrança. Retratos, conversas, e recordações vão tomando distância. Nunca
saberemos o que poderia ter sido, o que foi se foi. Me restou mais um poema.
Fim
Primeiro se vai o cheiro,
a lembrança vai ficando distante,
o que poderia ter sido se esquece.
Seguimos.
Entre outros corpos, a procura.
Até chegar o novo
e assim poderemos nos libertar.