A chuva ácida vem corroendo os
meus dias, arrancado camadas do que sonhei ser. O que eu não sabia é da
tristeza profunda que sinto e ninguém há de me salvar.
Tudo escorre por entre os dedos,
o tempo, a inveja, o pensamento. Enquanto tudo lá fora aparenta estar normal, e
até muitas vezes ir mais além de um modo construtivo, aqui eu sigo sem entender
as minúcias das coisas, detalhes se desfazendo nesta chuva.
O peso de mudar as injustiças, a
leveza de aceitá-las. O peso de aceitar as injustiças, a leveza de mudá-las. A
destruição é o alicerce de coisas no modo diferente. A manutenção das coisas é
a destruição da superação humana. Aos poucos aprendo o que suporto, o que me
destrói, a maldade que se alastra, a bondade escassa. Negar o mundo não é o
suficiente, é preciso
transformá-lo.
Então se descobre que a subversão
é uma arma que defende e mata. Aprende-se que não há manual para extrair a
liberdade. Alguns pensam que é saindo da casa dos pais, vejo que não. Sair do
ambiente familiar carrega a contradição de viver por si, reproduzi-los, mesmo
tentando ignorar tal condição. Outros pensam que é sustentando a família, ainda
que subjetivamente, vejo igualmente que não. Esse movimento exaustivo,
conflituoso e doentio de calar conflitos ignora o sabor da autonomia sobre a
própria vida. Quando li A origem da família, da propriedade privada e do estado,
fiz uma leitura alienada. Laços afetivos são conquistados, não impostos.
Entretanto, escolhemos a hierarquia que podemos para sobreviver. Tanto tempo
para perceber isso, tantas rupturas, tantas culpas e desencantos. Fui
esquecendo as curvas da trajetória e hoje já não sei o que me sustenta.
As palavras servem pra seguir,
pra doer, pra viver e ser feliz. Neste momento são chagas em meu corpo. Elas
aparecem, se escondem e retornam mais doloridas e fortes.